A irresponsabilidade que custa caro

Um antigo cliente costumava me dizer: “Eu gosto de fazer o gasto primeiro porque isto me obriga a arrumar dinheiro para dar conta”. Era assim que ele tentava justificar as elevadas despesas que tinha com propaganda, comprando espaços publicitários caríssimos em jornais e na televisão. Logicamente que qualquer empresa deve investir uma relevante verba em publicidade, desde que isto seja feito com o devido planejamento orçamentário. Não era o que ocorria no caso do cliente em questão – os altos gastos frequentemente o obrigavam a tomar empréstimos junto a bancos aproveitando que ele tinha um grande limite de crédito, pois seu faturamento era alto. Consegui racionalizar essa tomada de empréstimos que era feita de forma bem indiscriminada, mas ele não aceitou mudar seu pensamento a respeito da gestão financeira, o que me fez desistir de atendê-lo. Pouco tempo depois os concorrentes se fortaleceram, chegou a crise econômica, o faturamento reduziu drasticamente e infelizmente a empresa não resistiu – quebrou.

Tristemente esta história é muito comum no meio empresarial brasileiro – sejam empresas grandes ou pequenas. Esta semana o país foi surpreendido pelo pedido de recuperação judicial da gigantesca Odebrecht, que acumulou uma enorme dívida de R$ 98,5 bilhões. Em que pese a empresa ter sofrido com a descoberta do enorme esquema de corrupção que a cercava, como foi exaustivamente demonstrado através da Operação Lava Jato, contribuiu para a sua derrocada o fato dela depender de obras monumentais que levam prazos muito longos para ter retorno – a Odebrecht contraiu vultuosos empréstimos para financiar seus projetos e o combo de perda de credibilidade e crise econômica impediu que este retorno acontecesse, o que gerou a bola de neve que ameaça a empresa.

Já mencionei muitas vezes nesta coluna que existe apenas um único problema financeiro no mundo: gastar mais do que se ganha. Sim, é algo bem simples e básico, mas chega a ser assustador observar que o “jeitinho brasileiro” de achar que tudo vai se resolver de alguma forma no futuro criou um país de gastadores irresponsáveis que ignoram este princípio, e isto acaba respingando nas empresas. Nossos governantes apenas refletem esta cultura vigente, extrapolando nos gastos do dinheiro público e endividando cada vez mais o país, situação aliás que nos jogou nesta má situação econômica de difícil recuperação. Aliás, lembram-se daquele cliente do qual falei no início do texto? Virou político….

Temos hoje 63,2 milhões de brasileiros com nome sujo no Serasa, dado que foi divulgado no início deste mês de junho. Esta estatística preocupa bastante, afinal as empresas podem pedir recuperação judicial, que na prática é um período onde as dívidas ficam congeladas para que a empresa possa apresentar um plano de recuperação que permita pagar os credores sem que estes possam executar os débitos judicialmente. Mas as pessoas não têm acesso a este recurso. Então, para evitar consequências irreversíveis, o melhor é começar a mudar a mentalidade e procurar ter uma vida financeira mais controlada – gastando com responsabilidade.

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