O BRASIL E A RECUPERAÇÃO ECONÔMICA QUE NUNCA CHEGA

Recentemente, o governo federal reduziu a projeção de crescimento do PIB brasileiro em 2019 de 2,2% para 1,6%. Como o PIB mede o dinamismo da economia de um país, na prática isto significa que, depois de ter passados anos bem difíceis de recessão, a recuperação continuará sendo muito lenta. A projeção do governo pode até ser considerada otimista: as estimativas de crescimento do PIB pelos profissionais do mercado financeiro, publicadas semanalmente no Boletim Focus do Banco Central do Brasil, estão diminuindo semana a semana: começaram 2019 em 2,53% e na última semana já haviam sido reduzidas para 1,24%. Há um sentimento de desconfiança generalizada com o Brasil e a consequência disto é a manutenção de baixos índices de investimento por parte das empresas e do governo. Isto faz com que o número de desempregados continue alto, gerando um círculo vicioso que mantém a economia travada: sem emprego não há renda; sem renda não há consumo; sem consumo não há crescimento.

Por que a economia do Brasil não consegue deslanchar mesmo com todo o otimismo que parecia haver após as eleições do ano passado? Na verdade, esta confiança não era tão decorrente do resultado da votação: era mais devido a crença de que, com o país mudando de rumo em termos de governo, talvez esta mudança representasse uma mudança de ciclo também na economia. As dificuldades que o novo governo está tendo em viabilizar mudanças e reformas necessárias para revitalizar o ambiente econômico, além do fato de ele não mostrar tanta vontade em promover esta revitalização e se preocupar com coisas de menor importância explicam em parte as dificuldades e o aumento do pessimismo.

Entretanto, a economia não é uma ciência tão exata. São muitos fatores que influenciam os seus movimentos e não à toa os próprios economistas divergem muito entre eles a respeito das linhas pelas quais ela deve ser conduzida: alguns acreditam que o governo necessita agir como o principal responsável pelo desenvolvimento, outros defendem que o governo deve simplesmente deixar a iniciativa privada conduzir os rumos econômicos sem interferir. Economistas desenvolveram modelos bastante eficientes para prever movimentos de setores específicos, mas falham bastante quando estendem esta previsão para o país inteiro, pela simples razão de que quanto mais elementos influenciando os movimentos econômicos, maior a subjetividade envolvida.

Se no início do ano todos os empresários que estavam otimistas com a recuperação econômica convertessem este otimismo para investimentos concretos em aquisições de máquinas ou novas contratações com certeza as previsões positivas teriam se concretizado. Por que isto não ocorreu? Talvez porque eles não estavam tão otimistas, talvez porque este sentimento era muito mais uma esperança do que algo baseado em evidências concretos. Mas pode ter sido simplesmente porque faltou aquele que desse o primeiro passo – se algum destes empresários tivesse efetivamente feito este movimento os demais se sentiriam motivados a fazer o mesmo.

Minha esposa deu uma bela definição para o cenário: é como na época da escola em que todos os alunos combinam de faltar em um determinado dia para que ninguém seja prejudicado, porém a maioria descumpre o combinado e vai para a aula, prejudicando aqueles que cumpriram o acordo. No caso do Brasil parece que todo mundo concordava que a economia iria crescer, mas muitos não cumpriram sua parte no “acordo”. E as projeções atuais vão se cumprir? A situação vai melhorar ou piorar ainda mais? O histórico mostra claramente é que melhor não cravar opinião diante desta imprevisibilidade – teremos que seguir com nossa aflição aguardando o desenrolar dos próximos capítulos.

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