COMO A ECONOMIA DESTRUIU MEUS SONHOS

Outro dia passando pela timeline do Facebook vi uma postagem de um conhecido que dizia “o brasileiro prefere ganhar 5 mil e ver o pobre ganhando mil do que ver os dois ganhando 10 mil. O Brasil não tolera igualdade social”. Não duvido nem um pouco das boas intenções de quem postou isto – somos um país realmente muito injusto socialmente e é claro que não existe alguém que não deseje um mundo onde todos possam ter uma vida muito confortável. Eu até teria compartilhado a postagem, caso isto fosse há 17 anos atrás. O problema é que nesse tempo eu passei a estudar economia e isto fez com que eu me deparasse com uma dura realidade: as utopias que temos de um Brasil onde todas as pessoas podem trabalhar pouco, ganhar muito, viver confortavelmente e se aposentar aos 40 anos infelizmente são muito difíceis – para não dizer praticamente impossíveis – de acontecerem na prática. Nesse sentido dá para dizer que a economia destruiu alguns dos meus sonhos.

Por que não dá para todo mundo ganhar 10 mil reais por mês? Simplesmente porque os recursos são limitados. Aliás, esta é a definição da economia como ciência: buscar a melhor forma de alocar os recursos escassos.  Pense no seu orçamento doméstico: você tem uma série de necessidades como alimentação, saúde, educação, lazer e precisa acomodar todas estas necessidades dentro do seu salário – desta forma você vai alocar a sua renda (salário), que é limitada, para suprir estas suas necessidades. Se a renda não é suficiente para suprir suas necessidades, você terá que se endividar. Com as empresas e os governos, o mecanismo é o mesmo. Não é a toa que a origem da palavra economia são os termos gregos oikos (casa) e nomos (costumes, lei), ou seja, significa algo como “regras de administração da casa”.

Para que todos os brasileiros ganhassem 10 mil reais por mês seria necessário que o Brasil produzisse bens e serviços que gerassem os recursos necessários para esta divisão acontecer. Esta produção de bens e serviços é medida pelo PIB e a divisão do PIB pelo número de habitantes do país é o PIB per capita. Em 2017 o PIB per capita do Brasil foi de R$ 31.587,00 o que significa que se todo o dinheiro gerado pelo Brasil no ano fosse dividido igualmente pela população cada um teria direito a menos de R$ 2.650,00 por mês – muito menos, portanto, do que o desejo daquela postagem de Facebook. Neste caso querer está bem longe de poder – não há como dividir um dinheiro que não existe.

Existe uma forma de estes 10 mil reais por mês virarem realidade? Bom, primeiro é importante ressaltar que há mecanismos que impedem uma divisão tão igualitária de renda – e existem exemplos concretos de onde isto foi tentado, todos enormes fracassos que causaram apenas aprofundamento da miséria. Mas não é utopia almejar um país menos desigual e em que todos tivessem condição de obter uma maior renda. Nos Estados Unidos o PIB per capita é aproximadamente de 18 mil reais por mês! Lógico, trata-se do país que mais produz bens e serviços no mundo e por isto conta com mais recursos do que os demais.

Cada norte-americano produz cerca de cinco vezes mais que um brasileiro – na prática isto significa dizer que nos Estados Unidos se martela um prego cinco vezes mais rápido que no Brasil. Por que isto acontece? Lá a educação básica é muito melhor. Não acho exagero dizer que um adolescente de 12 anos nos Estados Unidos tem mais conhecimento do que a maioria dos universitários brasileiros. O país também não sufoca seus empreendedores com uma série de leis absurdas, impostos, encargos trabalhistas, etc. O resultado é que, mesmo não havendo uma distribuição igualitária de renda, profissões de menor status como faxineiros, garçons e pedreirossão bem remuneradas e muitos brasileiros sonham em ir para lá dispostos a trabalhar em empregos que provavelmente não aceitariam no Brasil.

O exemplo a ser seguido está dado, falta vontade política e informação para irmos por este caminho. Infelizmente, muita gente que não entende de economia e finanças quer dar “pitaco” nestas questões e acaba se prendendo aos argumentos utópicos – outros o fazem simplesmente para não ter seus privilégios atingidos. Um exemplo é a Reforma da Previdência cuja necessidade já foi explicada aqui: https://www.ocomuniqueiro.com.br/2018/11/11/por-que-querem-mexer-na-aposentadoria/ . Infelizmente, economia não é mágica.

Mas quando eu falo que a economia destruiu parte dos meus sonhos, preciso ressaltar que ela também me ajudou a realizar vários. Esta semana mesmo uma pessoa disse que o meu trabalho a ajudou a lidar melhor com o seu dinheiro e mudou suas perspectivas a respeito de várias coisas. Poder usar meus conhecimentos para fazer a diferença na vida de alguém me enche de alegria e devo isto a esta maravilhosa ciência, que norteia minha vida há 17 anos.

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