Da Sala de Visita ao Quarto de Despejo

Impressões Literárias da obra Quarto de Despejo de Carolina Maria de Jesus

Carolina Maria de Jesus produziu seus diários entre 1955 e 1960, relatos que originaram o livro Quarto de Despejo, que foi finalmente editado e publicado pelo repórter Audálio Dantas, que havia sido encarregado de escrever uma matéria sobre a crescente favela ao redor do Rio Tietê, o Canindé, e acabou por encontrar a escritora e também catadora de papel.

Ao ler este livro você encontrará um relato fiel da vida da escritora, que sendo catadora de papel buscou por meio dos seus diários denunciar a condição de vida da favela, especialmente o cotidiano no Canindé. Trata-se de uma obra onde a protagonista é a fome, que infelizmente assola o Brasil. A escrita, emocionante fará com que o leitor reflita em diversos momentos a sua condição de ser humano nessa sociedade.

A autora criou sozinha 3 filhos: João, José e Vera na favela do Canindé trabalhando como catadora de papel, e vendendo materiais recicláveis, apesar de ter estudado formalmente apenas 2 anos, ela prezava muito pela educação dos filhos e os fazia ir à escola mesmo com medo da violência da favela, revela em seus diários a necessidade de leitura, toda noite ela praticava a leitura, o que demonstra sua preocupação em ser letrada. Nunca foi casada por escolha, ela retrata dois envolvimentos amorosos, não fica com nenhum pois afirmava que conseguia sustentar os filhos sem precisar de homem nenhum. Outro aspecto relevante é a presença da fome, Carolina muitas vezes sente-se doente e fraca devido à pobre alimentação, ou às vezes nenhuma, fome que deixa o mundo triste e amarelo, segundo a escritora. O leitor se sente tocado ao ver a angústia de Carolina por não conseguir juntar dinheiro o suficiente para comprar comida para alimentar os filhos, e emociona-se igualmente ao ler sobre a felicidade estampada no rosto das crianças quando a mãe conseguia comprar arroz, feijão e carne.

Em momentos de maior dificuldade, quando não havia dinheiro algum, a família comia restos encontrados no lixão. Ela conta que buscava restos de carne em açougues para fazer sopa para os filhos.

 Além de seus próprios sofrimentos, a autora escreve sobre a realidade na favela, ela toca em assuntos como a violência doméstica, muitas vezes causada pelo alcoolismo, e brigas entre vizinhos. A escritora, foi contrária a todo tipo de violência sempre chamando a polícia era inclusive chamada pelos vizinhos de intrometida.

Carolina Maria de Jesus, preocupava-se com a situação política e social do país, falando em nome de todos os marginalizados do país, seus diários são a melhor descrição de realidade das favelas brasileiras da época.

Seu livro já foi traduzido em 13 idiomas e publicado em mais de 40 países uma leitura que merece ser lida e relida. O livro encontra-se disponível nas plataformas digitais e nas livrarias para aquisição.

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