Mulheres são capacitadas para colocar a mão na “graxa”

Lugar de mulher é em toda parte, inclusive nas oficinas mecânicas. Para capacitá-las a cuidar dos seus próprios veículos, principalmente para que conheçam a serventia das peças e quando devem ser trocadas, a DPaschoal vem realizando, desde 1984, um curso gratuito de mecânica para mulheres em sua rede de lojas localizadas nas regiões de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Este ano, o curso será promovido até 30 de março em 141 das 164 lojas da rede. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas presencialmente ou por telefone nas próprias lojas. Cada turma tem, em média, 30 inscritas. O curso tem duração de 3h30, em média, com aulas teóricas e práticas. A expectativa é de que devem ser capacitadas cerca de cinco mil mulheres.

Mulheres gerentes

Em 32 lojas da DPaschoal gerenciadas por mulheres, são elas que também ajudam a organizar e a ministrar os cursos que ensinam noções básicas de manutenção dos veículos, incluindo sistemas de rodagem (pneus e rodas), suspensão (amortecedores, pivô terminal etc.), freio (pastilha e disco), bateria, palheta e motor com filtros e óleos, além de serviços de alinhamento, balanceamento, higienização de ar-condicionado e cristalização de vidros.

A maioria delas, inclusive, não entendia nada de mecânica quando decidiu trabalhar na loja de serviços automotivos. Por isso, se empenham tanto em fazer com que outras mulheres também aprendam sobre as condições gerais dos veículos e desenvolvam aptidão para cuidar do carro no dia a dia.

Gerente de loja em Campinas, Daiane Pereira acreditava que as peças eram as mesmas para todos os carros. Foi aprender na prática, durante as revisões junto com os mecânicos, a utilidade de cada um dos componentes, seu funcionamento e, também, sanar as dúvidas. Renata Gobbi, gerente em Curitiba, sabia apenas “que o pneu é preto e roda”. O desafio para que Daiane e Renata se tornassem gerentes de lojas de serviços automotivos foi vencido com muito treinamento e reciclagem constantes oferecidos pela empresa.

Perfis variados

De acordo com os gerentes das lojas, a procura pelos cursos nos últimos anos tem sido feita por mulheres das mais variadas idades, desde as que acabaram de tirar a CNH – Carteira Nacional de Habilitação – até mães que precisam transportar seus filhos para as diversas atividades, bem como aquelas que não querem ou não podem mais depender de maridos, filhos, genros ou netos.

Carla Cecília Erl, da loja de Brusque, e que trabalha há 12 anos na DPaschoal, conta que muitas das mulheres que frequentam os seus cursos “são pessoas curiosas que querem garantir independência com o conhecimento e vão aprender sobre mecânica para não serem enganadas nas oficinas”.

“Temos desde profissionais que trabalham como motoristas, até donas de casa que levam os filhos para a escola. Temos motoristas experientes, as de primeira viagem, e mulheres maduras que antes dependiam dos maridos e acabaram tendo que se virar sozinhas”, complementa Daiane. Em sua loja, ela estima que a metade das participantes tem entre 35 e 50 anos de idade, cerca de 20% estão na faixa etária entre 20 e 35 anos e que 30% acabaram de tirar a CNH e estão comprando o primeiro carro.

Renata relata que alguns cursos são específicos, como os dedicados a mulheres que dirigem para aplicativos, ou outro que envolveu um grupo de jipeiras. Aos 42 anos, divorciada e mãe de um garoto de 12 anos, Adriana Aparecida Prado Alves foi uma das jipeiras que procurou pelo curso porque “não entendia nada da conversa travada pelos amigos quando o assunto era sobre carros”.

Hoje, a assistente de um escritório de Advocacia sabe tudo sobre os cuidados básicos com o carro, e ainda de pneus, fusível, bateria e fluídos. Tanto que, após o curso, ela decidiu carregar no carro um cabo para carga de bateria. Recentemente, Adriana precisou socorrer um vizinho que, inclusive, lhe confessou não saber como fazer a recarga.

Feedbacks

“Os feedbacks são sempre tão positivos que elas indicam o curso para as amigas e parentes”, garante Carla. Daiane diz que as alunas saem tão satisfeitas do curso que querem mais e já perguntam quando será o próximo. José de Maria, gerente de loja em São Paulo, explica que “as clientes se sentem poderosas e mais confiantes para entrarem na oficina e conversarem, sem medo, com os mecânicos”. Renata, acrescenta que há mulheres que já fizeram o curso mais de uma vez.

Em Itapetininga, a gerente Regiane lembra que algumas até pedem para trazer os maridos e filhos. “Mesmo que o curso seja voltado para mulheres, acabamos liberando para que conhecimento se multiplique por todos, indistintamente”, informa. Afinal o objetivo da DPaschoal é medir e testar qualquer peça antes da troca e permitir ao cliente o acesso às informações sobre seu veículo – num relacionamento transparente e honesto.

Preconceito

Daiane, confessa que, no início, o pai e o namorado da época não gostaram da ideia de vê-la trabalhando em um ambiente até então considerado masculino. Foi um desafio, mas vencido com dedicação. Roseane Prado, gerente de loja em Ribeirão Preto, tinha apenas 21 anos quando foi trabalhar na linha pesada. Por vezes, ela chegou a ouvir comentários como “o que você tem de idade eu tenho de estrada”, “você não vai entender” ou, já como gerente, “eu quero falar com um homem que entenda”.

Demonstrando conhecimento, elas conquistaram a confiança de todos. Regiane explica que os clientes se impressionam com o atendimento e não com quem está atendendo. Ela ensina que o bom atendimento é a base para se quebrar qualquer barreira. Carla emenda que a confiança começa a ser construída justamente no atendimento e na forma como a informação é transmitida. “Se você demonstra segurança na hora de passar a informação, as pessoas confiam no que está sendo dito”.

Renata, sente-se super à vontade, tanto com os clientes quanto com os colegas de trabalho. Ser mulher não atrapalhou em nada as suas atividades profissionais. Ela revela, inclusive, que até mesmo os funcionários do sexo masculino com mais tempo de casa e com muito mais experiência e conhecimento, a procuram para trocar ideias sobre as soluções para os serviços que precisam ser feitos. “Independe do sexo. Se a pessoa já é desconfiada por natureza, não importa quem irá atendê-la”, finaliza Roseane Prado, gerente em Ribeirão Preto.

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